Você sabia que a Universidade de Brasília foi pioneira na implementação de cotas para acesso aos seus cursos de graduação?
Há mais de 20 anos, a UnB possui cotas, de modo que os diferentes sistemas de concorrência são parte marcante dos processos seletivos da universidade. Hoje, você entenderá quais são os sistemas e como eles funcionam!
Para começarmos o texto, eu preciso te trazer uma informação fundamental: os sistemas de concorrência e a proporção de vagas são os mesmos nos 3 processos seletivos da UnB (PAS, Vestibular e Acesso ENEM). Assim, aqui nós não falaremos de nenhum processo em específico, pois estamos nos referindo a regras que se aplicam à universidade como um todo!
O que são sistemas de concorrência na UnB
Patinho, pense que entrar na universidade é como uma corrida em que os melhores classificados são aprovados. Até aqui, faz todo sentido, né?
Mas agora perceba que não estamos falando de uma única corrida. Primeiro porque existem três processos seletivos para a UnB: o PAS, o Vestibular e o Acesso ENEM. Em segundo lugar, porque, mesmo dentro de um mesmo processo seletivo, nós ainda temos disputas diferentes.
Por exemplo, se o Luiz quer Ciência da Computação e o Pedro quer Engenharia da Computação, então não faz sentido que eles disputem a mesma corrida. Cada curso é sua própria disputa.
Só que não para por aí. Dentro de um mesmo curso, em um mesmo processo seletivo, nós temos disputas diferentes. Elas acontecem por conta dos sistemas de concorrência, dentro dos quais estão inseridas as cotas.
O que são as cotas na UnB
Pense nas cotas como reserva de vagas. A Universidade deseja garantir que pelo menos X% dos seus estudantes sejam de escola pública e que pelo menos Y% sejam de baixa renda, para citarmos apenas dois exemplos por enquanto (em breve abordaremos todas as cotas).
Desse modo, há uma reserva desse percentual de vagas e apenas estudantes que possuem as características previstas podem concorrer a tais vagas.
Na nossa explicação sobre as corridas, as cotas são disputas em que apenas candidatos detentores das características informadas no edital podem participar.
Portanto, existem centenas de corridas para entrar na universidade. Cada curso, em cada sistema de concorrência e processo seletivo constitui uma corrida! Na minha experiência com o PAS, é super frequente receber perguntas como “Tirei X, será que consigo passar em jornalismo?”. E agora você finalmente entende porque a minha resposta sempre envolve um “depende”: uma informação precisa sobre isso depende completamente do sistema de concorrência por meio do qual o candidato concorre, uma vez que as notas de corte acabam sendo completamente diferentes.
Quais são os sistemas de concorrência da UnB
Em uma visão geral, a UnB possui 3 grandes sistemas de concorrência:
- Sistema Universal
- Sistema de Cotas para Negros (pretos + pardos)
- Sistema de Cotas para Escola Pública
E aqui muitas pessoas entram em dúvida: “Ué, onde estão as cotas para pessoas de baixa renda ou as cotas para pessoas com deficiência?”. Calma lá, elas existem sim!
Basicamente, meu patinho, essas cotas que eu citei são subdivisões das cotas para escola pública. Assim, dentro desse grande sistema, nós temos subsistemas de acordo com 3 critérios: renda, PPI (preto, pardo ou indígena) e PCD (pessoa com deficiência). Daqui a pouco, nós falaremos com maiores detalhes do funcionamento desses sistemas mais específicos. Porém, justamente para entendermos o que é mais específico, devemos compreender o geral. E por isso falaremos, primeiramente, sobre o Sistema Universal.
Entendendo o Sistema Universal
A palavra universal remete a… universo. E não, não estamos falando de astronomia ou algo do tipo. Acontece que o significado de universo é bem simples:
“o conjunto de todas as coisas que existem; o mundo”
Assim, sistema universal é o sistema em que todos os candidatos concorrem, pois ele abrange tudo!
Muitas pessoas, no entanto, pensam que o sistema universal é o sistema para alunos de escola particular. Eu diria que é um erro clássico, mas considero que não é algo muito absurdo de se pensar, pois dá pra entender o motivo da confusão.
Acontece que, normalmente, o estudante de escola particular só pode concorrer pelo sistema universal (a única exceção é se o estudante de particular também for preto ou pardo, já que então ele poderá participar também do sistema de cotas para negros). Como a maioria dos aprovados no sistema universal costuma ser de escola particular, acaba-se criando a imagem de que ele é apenas para escola particular. Conhecer essa distinção, evitando cair no erro clássico, é muito importante quando se pensa nas notas de corte e nas chamadas para o PAS.
Desse modo, entenda o sistema universal como a modalidade em que todos os candidatos estão automaticamente concorrendo. Só de estar inscrito você já está concorrendo ao sistema universal. Os demais sistemas, como veremos agora, precisam de pré-requisitos para que o candidato participe, limitando a concorrência para as vagas disponibilizadas.
Com base nisso, conclui-se também que é possível participar de diferentes sistemas de concorrência. Afinal, vimos que todos os candidatos (inclusive os com cotas) participam do sistema universal. Agora vamos para o próximo grande sistema de concorrência da Universidade de Brasília, o de cotas para negros.
Sistema de cotas para negros
Normalmente, os nomes dos sistemas de concorrência já informam a regra para participar dele. No entanto, o sistema de cotas para negros pode causar um pouco de confusão nesse raciocínio. Acontece que, para concorrer nele, não basta ser negro. É preciso ser negro e de escola particular.
Talvez alguém leia esse trecho e pense: que absurdo, e os candidatos negros de escola pública?
Eles também possuem cotas raciais, mas elas estão justamente dentro do sistema de cotas para escola pública. Como o candidato negro de escola pública já concorre nesses sistemas específicos, a participação no sistema chamado de “cotas para negros” fica limitada para quem não é de escola pública – ou seja, para quem é de escola particular.
É válido notar, ainda, que esse sistema possui apenas cerca de 5% das vagas dentro de um processo seletivo (utilizamos o “cerca” para definir o percentual, pois existe variação a depender do curso que estamos abordando). E é nesse detalhe em que acontece um outro grande erro – para o qual é impossível defender aqueles que o perpetuam.
Atenção: os sistemas de concorrência podem se acumular
Infelizmente, muitas pessoas constatam que o número de vagas para a cota para negros é pequeno e espalham a informação de que não vale a pena concorrer a uma vaga por meio dele. A tese de tais pessoas afirma que seria melhor um estudante negro de escola particular concorrer no sistema universal, que tem quase metade das vagas, do que no sistema de cotas para negros, que tem um % bem menor.
Faz sentido? Nenhum!
Os sistemas de concorrência não são exclusivos! Não é como se uma pessoa só pudesse concorrer a um sistema, sendo impedida de participar dos demais. Assim, pense que cada novo sistema em que um candidato concorre somente aumenta as chances dele ser aprovado. Nunca, em hipótese alguma, concorrer por meio de cotas diminuirá as chances de aprovação do candidato!
E alguém poderia rebater dizendo “Mas já teve um ano em que a nota de corte da cota para negros em Medicina foi maior do que a nota de corte do sistema universal!”
Sim, é verdade. Mas quando isso aconteceu, os outros candidatos negros de escola particular também concorreram no sistema universal, de modo que as chances de aprovação não foram reduzidas!
Inclusive, aqui neste texto eu ainda pincelarei sobre a mudança na Lei de Cotas ocorrida em 2023, que na prática aumenta a chance do candidato cotista ser aprovado. Além disso, já preparamos um texto completo sobre o assunto em Como as mudanças na lei de cotas afetam os processos seletivos da UnB. Antes de continuarmos, temos mais um adendo.
Quem tem direito a cota para negro segundo o edital da UnB?
No Brasil, algumas definições étnicas não são nítidas ou não são compartilhadas por toda a população. Em muitas situações, é isso o que acontece com o termo “negro”. Nesse sentido, os editais dos processos seletivos da UnB utilizam a mesma definição adotada pelo IBGE, segundo a qual o grupo negro inclui pessoas pretas e pessoas pardas.
Isso já sana a dúvida de muitos estudantes pardos que não sabem se podem ou não concorrer por meio da cota para negros. Mas a explicação não deve parar por aí.
Recentemente, a UnB mudou as regras do seu edital e passou a adotar a heteroidentificação como critério para um estudante concorrer dentro de cotas raciais.
Assim, ao se inscrever em uma cota racial (seja cota para negros, seja algumas das cotas PPI de escola pública), o estudante deve participar de um processo que validará as suas características fenotípicas. O objetivo da UnB com esse processo é evitar a ocorrência de fraudes nas cotas raciais. Para saber mais detalhes sobre tal assunto, consulte o texto Cotas raciais na UnB – como funciona a banca de heteroidentificação.
Sistemas de cotas para escola pública
Até aqui, nós já falamos do “sistema universal” e do “sistema de cotas para negros”. Agora, nós finalmente veremos os sistemas de cotas para escola pública. Você percebeu a diferença? Estamos falando no plural, pois conversaremos sobre um grande conjunto, o qual reúne 8 subsistemas de concorrência a vagas na UnB.
Todos esses 8 sistemas têm em comum o mesmo requisito básico: para participar deles, o candidato deve ter feito o ensino médio inteiro na escola pública.
Obs.: no caso do PAS, a escolha do sistema de concorrência só é feita na terceira etapa, momento em que o estudante já estaria completando o seu ensino médio na escola pública, sendo então capaz de se adequar a tal exigência.
Eu entendo que uma dúvida pode surgir em relação a o que se caracteriza como escola pública. Isso é completamente justificável, visto que alguns processos seletivos (como o da ESCS) consideram apenas as escolas públicas do Distrito Federal.
No caso da UnB, porém, a regra não é essa! Assim, além dos estudantes de escolas públicas distritais, também podem concorrer pelos sistemas de cotas para escolas públicas os alunos do Instituto Federal e dos colégios militares.
Os subsistemas de cotas para escola pública
Agora pensa comigo: quem mora em Brasília sabe que nem todas as escolas públicas são iguais. Assim, juntar todos os estudantes em um sistema de concorrência único talvez não fosse o ideal! É por esse motivo que nós temos os subsistemas, que são formados considerando 3 critérios:
- Baixa renda
- Ser PPI (preto, pardo ou indígena)
- Ser PCD (pessoa com deficiência)
Você lembra que eu falei que eram 8 sistemas ao todo? Ora, como isso acontece se consideramos apenas 3 critérios?
Ora, meu patinho, os critérios se combinam. Por exemplo, é possível ser escola pública e baixa renda ou escola pública e PPI.
As imagens abaixo reúnem as explicações feitas até aqui e se aprofundam nos subsistemas de cotas para escola pública.
Agora eu preciso que você observe a imagem acima, especialmente os sistemas numerados de 3 até 10, e perceba um detalhe muito importante: os nomes presentes no meu fluxograma não são exatamente os mesmos utilizados pelo edital! Eu modifiquei ligeiramente para torná-los mais didáticos. Assim, o nome de cada subsistema de cota para escola pública na imagem já revela os requisitos obrigatórios para concorrer por meio dele.
Vamos para um exemplo prático! Suponha que Giovani seja um estudante de escola pública, baixa renda e negro. Em qual sistema o Giovani pode concorrer?
A primeira resposta seria o subsistema “3 – escola pública, baixa renda, PPI”. Faz todo sentido, já que são exatamente os critérios que ele possui! Porém, não para por aí.
No caso de Giovani, ele concorre no sistema 1 (universal, pois todos concorrem), no sistema 5, no sistema 7 e no sistema 9.
O motivo é simples:
- Sistema 5 – escola pública e baixa renda – o Giovani do nosso exemplo atende aos dois critérios básicos.
- Sistema 7 – escola pública e PPI – o Giovani também atende aos dois critérios básicos desse outro subsistema.
- Sistema 9 – escola pública – esse critério com certeza o Giovani atende!
Portanto, tenha em mente que os subsistemas de cotas para escola pública podem se acumular, permitindo que um candidato concorra em mais de um subsistema de cota para escola pública.
Cuidado com as confusões sobre os nomes das cotas
Apesar da minha explicação, muitas pessoas podem ficar confusas, pois a UnB dá a entender o contrário em alguns de seus textos. Até mesmo em documentos oficiais do PAS, eles se referem aos subsistemas com nomes diferentes dos adotados aqui. Um exemplo é o sistema de número 9.
Aqui neste texto ele foi definido apenas como “escola pública”, pois esse é o único requisito na prática. No edital da UnB, porém, o nome dele aparece como “Sistema de Cotas para Escolas Públicas/candidatos com renda familiar bruta superior a 1,5 salário mínimo per capita que não se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas.”
Ora, qualquer um que interprete a definição da UnB pensará que um estudante de baixa renda não pode concorrer no sistema de número 9, pois a definição fala explicitamente” renda familiar bruta superior a 1,5 salário mínimo”.
Só que se isso fosse verdade, nós estaríamos diante de um verdadeiro absurdo. Significaria que a Universidade reserva de maneira ativa vagas para estudantes mais ricos, impedindo que os estudantes de baixa renda concorram a determinadas vagas na faculdade.
Meu patinho querido, se uma coisa assim acontecesse de maneira tão explícita, eu te garanto que cabeças já teriam rolado (talvez não rolado, já que não estamos na França, mas com certeza haveria mobilização contra os editais da UnB).
O que acontece na prática? Ao analisar os resultados finais do PAS (O Guia ama fazer isso) fica perceptível que a participação no sistema 9 não é limitada a quem tem uma renda familiar acima de 1,5 salário mínimo per capta. Na verdade, todos os estudantes de escola pública concorrem nesse sistema.
Alguns estudantes concorrem apenas nele (pense em um estudante branco, sem deficiência, com renda acima de 1,5 salário mínimo), mas isso é completamente diferente de dizer que ele é um sistema de concorrência exclusivo para candidatos não ppi e não baixa renda.
E por que a UnB adota uma definição pouco precisa em suas comunicações oficiais? Possivelmente era uma tentativa de tornar os nomes mais didáticos, mas percebemos aqui como ela prejudica a interpretação por parte dos candidatos. O importante é que agora você entende o funcionamento do edital e pode direcionar melhor a sua preparação.

E as notas de corte?
Nós já vimos todos os sistemas de concorrência, percebemos que um candidato pode concorrer a vários simultaneamente (desde que cumpra os critérios) e passamos por alguns detalhes relativamente complicados. Depois de entendermos tanto sobre as cotas da UnB, o próximo passo é inevitável: devemos começar a falar sobre notas de corte!
Como esse é um assunto ainda mais detalhado, nós preparamos diferentes textos, cada um focando em um aspecto específico, para facilitar a sua jornada até a aprovação:
Como calcular o escore bruto do PAS UnB
Como calcular a nota do PAS – argumento final
O que é nota de corte no PAS UnB